terça-feira, fevereiro 28, 2006

Dia 4 – 12.02.06 por Haruki

Foi o melhor ensaio até agora, na minha opinião.

Para mim, foi somente a partir deste ensaio que comecei a entender e a visualisar todas as possibilidades que o texto apresenta. Ter que escolher 6 imagens, frases, ou palavras do texto me fez descobrir um número absurdo de possibilidades. Foi realmente difícil escolher somente 6, embora a minha primeira escolha tenha vindo logo de cara, com força: a imagem do jejuador caído em sua jaula, coberto por uma palha velha e suja, pessoas passando pela jaula como se ela estivesse vazia, o quadro marcando os dias de jejum completamente abandonado. A idéia vai diretamente de encontro ao orgulho que ele sentia por ser o maior jejuador de todos, é angustiante.

O exercício de improviso com o trecho retirado do texto foi intenso. O trecho que eu escolhi foi "Tentava afastar o pescoço tanto quanto possível, a fim de resguardar o rosto do contato com o jejuador.". Escolhi o trecho talvez por mostrar mais uma vez uma ferida no orgulho do jejuador, ele era um artista, e estava sendo tratado como um ser repugnante, de quem ninguém gostaria de chegar perto. As duas escolhas não foram conscientes, não quis relacioná-las, mas agora, escrevendo, percebo que talvez estivesse, e ainda esteja, buscando os motivos que levaram o jejuador a enfim entender e/ou aceitar a sua condição, resignando-se no final do conto e desculpando-se com todos. Voltando ao exercício, comecei usando a frase como muleta para o me movimentar na substância areia. Reforçava a palavra "tentava", a primeira, a que alvancava o resto da frase e os meus movimentos. Logo passei a quebrar a frase em partes, falava pedaços dela, fora de ordem, conforme alguma necessidade interior que eu não sei definir bem o que é, só sei que as frases não vinham de forma consciente. Eu não pensava "agora é uma boa hora para usar tal trecho", o tercho simplesmente aparecia e saía da minha boca, sem controle algum... estranho... por exemplo, quando ajudo o Bruno tampando-lhe os olhos, usava o trecho "resguardar o rosto do contato". E quando me encontrei com a Luíza encolhida em um canto, simplesmente passei a negar a minha frase, mas só fui perceber isso depois de já tê-la negado várias vezes... a Lu estava encolhida e eu fui até ela e dizia "não há porque afstar o pescoço", "não há porque resguardar o rosto", enquanto ela me empurrava, me afastava, eu me esforçava em tentar passar essa mensagem positiva, de contato, de solidariedade, mas ela estava visivelmente perturbada, me empurrando e me segurando com força. Foi bem intenso.

E como eu disse, foi depois deste ensaio, mais particularmente depois deste exercício, que eu me dei conta do petencial dramático desta peça que iremos montar. Ela promete!!!