quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Quadragésimo Dia - por Bruno



Chegamos, enfim, ao quadragésimo dia! E não era esse o momento que todos aguardavam??

Semanas atrás, eu havia criado um convite pra promover o ensaio aberto (postado acima). Achei elegante, e ao mesmo tempo, provocante. O pessoal também gostou.

Bom, tudo preparado. Chegamos cedo no teatro, montamos o cenário, ajustamos a cortina (ótima sacada), ajeitamos as cadeiras na platéia e fizemos ensaios rápidos pra alinhar luz, som e atores.

O público foi modesto, mas acima do esperado, inclusive. Cerca de 10 pessoas por apresentação (agradeço a todos pela ajuda). Fizemos duas apresentações boas, mas sabíamos que podíamos fazer melhor.

Ficou uma impressão de que a primeira havia ficado razoável. Mas a segunda, sofreu um pouco mais na qualidade, ao invés de melhorarmos. De qualquer forma, obtivemos o sucesso que buscávamos.

Tivemos um ótimo feedback do público, percorrendo discussões sobre a autoria do texto, unidade dos atores, técnicas de dramaturgia, qualidade técnica e temática do espetáculo.

Tudo registrado. Dados importantíssimos para o aperfeiçoamento do produto final.

Segue, ainda, as visões da amiga Denise Aletéia sobre nossa apresentação (fiquei super agradecido):

"Saímos da Cultura Inglesa de Higienópolis ainda discutindo sobre o ensaio aberto do grupo Bum-Chakalaka. Posso dizer que tivemos assunto por bastante tempo...

Eu, que conheço só de nome o trabalho de Franz Kafka, não sabia exatamente o que esperar. Enfim, ele mesmo me fez entrar ao teatro e sei lá porque, na hora, achei isso engraçado.

A introdução da peça foi feita pelo personagem do autor de “Um artista da fome” e - em sua primeira pausa - acompanhamos, através de sombras, o diálogo entre dois personagens. Particularmente, não consegui fixar minha atenção nas vozes daqueles que se ocultavam, atrás do pano vermelho, porque estava entretida demais com as formas.

Desse momento, que é um dos meus preferidos, guardo somente as imagens que se criaram.

A cena seguinte incomoda e o silêncio fez falta. A música de fundo irritou e impediu que conseguissemos ouvir claramente a caipira de andar engraçado.

Senti falta também de uma participação mais ativa do narrador-personagem e quis, muitas vezes, que ele interferisse na história.

Gostei da versatilidade dos atores, desdobrando-se em personagens diferentes.

Mais tarde, o que me pareceu ser sempre a mesma música foi diferencial nas cenas de silêncio prolongado do personagem principal. Se a intenção era incomodar o público; deu certo!

Causou um certo desconforto e - quando surgia - era a voz do jejuador, muito mais do que seus movimentos ou aparência física, que enfatizava a atitude emocional daquele artista para consigo próprio e para com o mundo. Por essa razão, a princípio, criei motivos para justificar-lhe o jejum e a obstinação em suportar o sacrifício.

A criança curiosa, mesmo que com suas perguntas inocentes, também buscava entender porque é do ser humano racionalizar as coisas. Impossível aceitar aquilo que não se entende.

Minha primeira idéia foi que se tratava de um homem com princípios religiosos; desses que participam de rituais acreditados como sendo de purificação e elevação espiritual. Alguém que desejava livrar-se de seus pecados e que tinha sua fé explorada pelos que sobrevivem da inocência, ignorância e desgraça alheia...

Depois pensei também na possibilidade de que o jejuador fosse um homem infeliz, entregando-se a sua própria sorte por não ter mais ânimo ou vontade de viver. Ou quem sabe não estaria sofrendo pelo amor de uma mulher ou por ser só?

Como gostei mais da minha primeira impressão, resolvi misturar todos os motivos e decidi que era isso mesmo: jejuava porque sofria e seu conforto e determinação vinha da fé e da crença em que “Deus” alimentava.

Sem surpresa, mudei de opinião quando vi fotografias de crianças e modelos igualmente desnutridas.

No começo do espetáculo, o personagem de Franz Kafka diz que o interesse pelos jejuadores profissionais caiu consideravelmente nas últimas décadas e, nesse ponto e também porque as mulheres da platéia eram todas gordinhas (rs), ficamos bem contentes mesmo que discordássemos.

Para exemplificar, ainda essa semana, divulgou-se a morte de uma modelo por falência múltipla dos órgãos. O que originou a morte? Nenhuma alimentação em detrimento de um corpo conforme os padrões magérrimos de beleza, emprego e fama. Com pequenas diferenças, não é o mesmo que fazia o artista da fome?

Não sei se é mal da classe publicitária ver significados e mensagens ocultas em tudo, mas não fui somente eu que acreditei que o texto e a pergunta do jejuador “Porque você come?”, fosse uma forte crítica social ao modismo de bulímicos e anoréxicos que trocam – conscientemente - a saúde por convenções estéticas ou fama enquanto, famílias inteiras morrem de fome porque, sem opção, só lhes resta “jejuar”.

Indo um pouco mais longe também retomamos a velha discussão sobre: de que vale a cultura se as pessoas passam fome?

E as conclusões foram as mais óbvias com direito a frases do tipo: “ não alimentam o corpo mas, alimentam a alma” e blá blá blá.

Enfim, atendendo ao pedido do Bruno, está aí um pouquinho sobre que comentamos sobre a iniciativa de vocês"
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quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Fotos - Apresentações

Seguem algumas fotos das apresentações. Elas foram exportadas da filmadora, por esse motivo, pecam um pouco em qualidade. Caso estejam escuras demais (pois a luminosidade varia de monitor pra monitor), aumentem um pouco o brilho.










terça-feira, fevereiro 06, 2007

Dia 38 - por Bruno

A construção da jaula foi uma tarefa deliciosa; por vários motivos. O Pedro já tinha a idéia, os croquis, os materiais haviam sido comprados e estávamos todos na expectativa: será que ficará do jeito planejado?

Pedrão me deu as instruções, olhamos os desenhos juntos, e eu e o Haruki sentamos num sofá e ficamos discutindo como transformaríamos aquele desenho em algo concreto. Pensamos na posição das dobradiças, dos cortes nas madeiras, no encaixe dos canos de pvc...

...e mão na massa.

Enquanto o Haruki foi ajudar com as luzes, eu fiquei lá construindo a jaula. Foi um processo extremamente demorado, que envolvia mais raciocínio do que eu estava esperando. Mas fui construindo. Lado por lado. Perdia horas calculando os cortes, os buracos dos parafusos, improvisando ferramentas. A mão doía de tanto parafusar, as costas ardiam pelas posições desconfortáveis, os músculos reclamavam da dor de ter que levantar e carregar os materiais de tempos em tempos.

Mas era a jaula do jejuador. Impossível ignorar sua importância em cena... como um outro personagem. Então, estava eu lá, moldando o quarto-personagem de palco. Cada etapa da construção que se concluía, algum problema surgia. Alinhamento, peso, equilíbrio das partes e peças, encaixes etc... Lá ia eu, gastar mais uns bons momentos pensando (e pior, em três dimensões) como resolveria mais esse problema.

A jaula ficou pronta. E ficou linda. Faltava apenas pintar, o que fizemos no último dia de ensaio, com pressa... mas, com carinho.

Com as luzes de palco acessas sobre ela, emanava um brilho estelar. Assustadora, mas ao mesmo tempo, atraente.