segunda-feira, maio 29, 2006

Improvisando - dia 18, por Bruno

Iniciamos o ensaio organizando os personagens da primeira cena e suas respectivas imagens. A Luiza cortava as figuras, o Haruki nomeava cada uma e o Pedro estruturava uma planilha indicativa da ordem de entrada de cada personagem e a imagem utilizada; eu, estava dormindo de olhos abertos e sonhando que prestava atenção.

Decidimos avançar na montagem das novas cenas. Escolhemos figuras para a cena do jejuador com os dois fiscais. Eu e Luiza, conforme distribuído anteriormente, fizemos um fiscal cada um; que posteriormente se transforma nos visitantes com archotes. Eu utilizei a mesma figura do policial gordo de ensaios anteriores e escolhi uma nova imagem de um legionário na figura dos ‘gansos’.

Montamos fotografias das imagens. Depois, sentados frente a frente, trocamos olhares entre os personagens e buscamos nuances nas expressões de cada um. Um exercício bem difícil, pois temos que criar várias figuras, em movimento, de uma figura inicial.

Depois, empreendemos esses personagens em um exercício de ação e reação. Agora em pé, buscávamos a interação, sem palavras, entre os personagens. Novamente, apenas dois no exercício.

Findos os exercícios, montamos uma pequena improvisação da cena dos fiscais. A Luiza entra primeiro e é mais atenciosa com o jejuados. Eu entro por último e tenho a convicção de que o jejuador contrabanda e esconde comida. Fico desconfiado e insistindo que ficarei atento durante todo o turno. Entretanto, e apesar da desconfiança, gosto de ouvir as histórias que ele conta. O meu fiscal é um ogro; glutão, grosso, desconfiado e mal-educado. Mas tem um coração mole. Na improvisação, os dois fiscais não chegaram a dividir o palco e a atenção do jejuador. Acho que podíamos trabalhar essa hipótese.
sexta-feira, maio 26, 2006

Conjeturando – Dia 17, por Bruno

Como o Pedro mesmo comentou no último ensaio, provavelmente já tenhamos material suficiente para escrevermos um livro apenas sobre técnicas de bastão. Gosto bastante dos exercícios do estilo qual praticamos nesse dia: de lançamento. Traz uma sensação ótima de atenção que, transposta para as atividades em cena, auxiliam no foco e na concentração. Precisamos estar atentos a cada segundo ao que ocorre ao nosso redor, principalmente aos colegas. Saber, pelos olhares, suas intenções e necessidades. Um estado de alerta constante e uma ampliação de todos os sentidos para que se mantenham preparados para o esperado; e o inevitável. Excelente. Pessoalmente, acredito que errei pouco, e isso evoca um sentimento exacerbado... de preparo, concentração, de sintonia com o espaço e com o grupo. O corpo treina reflexos dos sentidos sobrecarregados, a adrenalina aumenta e cada deslocação de espaço faz com que os músculos se contraiam - aguardando os próximos comandos. Os olhos humanos servem apenas como lentes, que captam toda e qualquer informação - nos maiores detalhes imagináveis - dentro do seu campo de abrangência (visão). É o cérebro quem escolhe quais objetos visualizados serão interpretados por ele e registrados. Essa escolha decorre de imagens pré-registradas e de informações culturais inseridas em cada observador. Uma proposta interessante é tentar ensinar o cérebro a visualizar os outros objetos; a dar atenção e registrar esses símbolos desconhecidos ou ignorados. Uma ampliação de foco, em última análise.
Acredito que esses exercícios auxiliam essa percepção, oferecendo uma quantidade enorme de informações desconexas da realidade tradicional compreendida pelo sistema nervoso.

Já com os personagens do primeiro momento do jejuador (Auge) distribuídos, escolhemos novas imagens para que cada um pudesse construir ou aprimorar os seus. As minhas foram:

- um apresentador de circo com um chapéu e olhar diabólicos;
- um senhor de bigode, em uma imagem de sombras fortes sobre o rosto;
- uma menininha encantada com a neve;
- o homem do casal apaixonado dentro da charrete;

Usei as duas imagens para compor o apresentador em suas fases distintas. Acredito que ele tenha, no mínimo, duas; e que eu vá precisar de muitas outras imagens. Entrando nesse assunto, minha opinião é de que uma cena é composta de várias imagens. Cada uma representa um momento específico no tempo. Dessa forma, e com base nessa forma de construção de personagem, faz-se necessária a utilização de uma quantidade maior de figuras para construir as diversas alterações do personagem durante a cena. Em um momento ele pode estar feliz (uma imagem de alguém feliz) e, em outra, pode estar nervoso (o que pode ser trabalhado com outra imagem). Fica a cargo do ator criar a ligação entre essas imagens.

O personagem do apresentador está tomando forma. Pelo menos, já tenho um direcionamento que gostaria de seguir. Acredito que seja um homem duro consigo mesmo e com os outros. Interessado no dinheiro e nas oportunidades. Bruto, impaciente e extremamente melancólico devido à solidão. O companheirismo com o jejuador, retratado no texto, ainda me intriga. Pode ser um ponto de vista do jejuador, achando que ele podia ate se importar com ele. Ou podia ser um companheirismo latu sensu. Na minha opinião, ele apenas se preocupava com seu maior investimento. Entretanto, enquanto não debatemos e chegamos a uma conclusão sobre esse assunto, gostei das improvisações. Esse lance livre de tentativa e erro é excelente. De exploração despreocupada. O personagem acha o seu texto. Estou curtindo muito isso e, se tiver que votar, voto pro texto da peça surgir dessa forma. Dos próprios personagens.

O apresentador é bruto e impaciente com o jejuador. Quer começar logo pra faturar o quanto antes. Mas, pra platéia, ele se apresenta animado e conquistador. É um vendedor, nada mais. Curti o momento em que eu fui abrir a cortina e parei, mudei completamente o tom de voz, e conversei com o Haruki (jejuador) casualidades. É aqui que vamos mostrar o companheirismo. Portanto, a definição dessa relação é necessária. O fase vendedor precisa ser melhor trabalhado. O olhar é difícil e a falta de falas corretas atrapalha. Ele não pode gaguejar. Não pode errar, pois sabe o que está fazendo e como fazer bem. Os diálogos com o caipira ainda não existem e a relação ficou bem pobre.

Depois entrei como a menininha encantada com o jejuador. Usei a figura da menina com a neve. Gostei das imagens e acho que está no caminho certo. Ela é curiosa e ingênua. Adoro a relação com a Luiza (mãe) e as falas para com o jejuador. O que me incomoda é a postura. Fico curvado e com as pernas dobradas e não sei porque. Talvez pra parecer menor ainda (como uma criança) e pra esconder o físico mais adulto. Mesmo assim, me incomoda. Acho que deveria manter a postura ereta; normal. E trabalhar a partir daí.

Entramos em seguida como casal. A primeira imagem deles apaixonados (na charrete) é boa e funciona. Acredito que estamos no caminho certo. Porém, quando nos deparamos com o jejuador e nasce uma certa curiosidade, acho que a relação dos dois se perde. Fica estranha e não consegui encontrar o sentido na cena. Talvez, eu precise descobrir melhor o que cada um quer fazer (ver o jejuador, apreciá-lo, conversar com ele, demonstra desinteresse, ir embora etc). Novas imagens também ajudariam.
domingo, maio 21, 2006

Começando - Dia 17, por Haruki

Por fim começamos. Pelo menos foi essa a sensação que tive ao final deste ensaio. Calma, fizemos muita coisa até agora, muito exercícios, muitas discussões, muitos trabalhos com imagens e personagens, começamos pra valer há 17 ensaios. O que eu quero dizer é que, enfim, cada um tem o seu personagem, pelo menos para o primeiro ato. E com essa definição surge toda uma nova vontade de se trabalhar, de se refazer os exercícios, de se procurar novas imagens, de se pensar em falas e diálogos, porém desta vez focado para o "seu" personagem.

Começamos o ensaio com um aquecimento com bastões. Foi o já tradicional arremesso de bastão, porém desta vez com 5 bastões ao mesmo tempo, depois 4 e por fim, 2 bastões. Bem mais difícil do que parece, uma fração de instantes de desconcentração... e lá vai o bastão em direção a uma pessoa que não o está esperando...

E então começamos a trabalhar com os personagens. Na verdade, como o Pedro já colocou no post anterior, os personagen estavam definidos, mas não chegamos a começar os trabalhos com eles no ensaio 16.

Eu fiquei com o Jejuador. Vai ser bom ter um único personagem, uma experiência diferente de nossa última montagem, quando eu fiz pelo menos 4 personagens grandes e uma série de personagens pequenos.

E vai ser bem difícil. O Jejuador no auge foi muito pouco trabalhado nos ensaios, nas imagens. Não o tenho claro na cabeça, na verdade não o tenho de forma alguma ainda (o que talvez seja bom). Não tenho idéia de como ele anda, de como ele fala, de como se veste... não sei sobre a qualidade dos movimentos, se são rápidos, lentos, sinuosos, diretos, longos, curtos... tenho uma noção do que ele pensa e do que ele sente, devido às nossas discussões sobre o conto, mas ainda é vago...

Mas queria fazê-lo de forma a contrastar bastante com as próximas fases dele, para ressaltar a transformação pela qual ele passará. Por isso queria fazê-lo mais ativo, participativo, talvez com um ar arrogante, talvez até jovial, por que não? Mas preciso de mais referências, referências novas, pois todas as que tenho de jejuadores, faquires e afins são de pessoas velhas, resignadas, passivas, extremamente calmas... enfim, de certa forma o oposto do que procuro. Em outras palavras, quero fazer um Jejuador que é o oposto do que eu conheço como Jejuador... fácil, né? Não sei nem por onde começar... na verdade sei... imagens! Tem ajudado bastante no trabalho de composição, e tenho certeza de que será fundamental para que eu ache o tom certo para o meu personagem.

Neste ensaio utilizei duas imagens clássicas de jejuadores e uma imagem de um boxeador com ar orgulhoso, arrogante, esnobe. Uma das imagens de jejuador possui um olhar meio fundo, com um "quê" de insano que eu gostei bastante. Afinal, como disse o Pedro, não dá para um jejuador ser normal mesmo... e esse olhar trouxe um ar jovial que eu buscava. O boxeador arrogante ajudou na postura, com a cabeça sempre levemente levantada, o corpo bem ereto. E o outro jejuador trouxe a posição clássica de jejuador, com as pernas cruzadas e as mãos sobre os joelhos.

Acho que foi um bom começo. Mas valeu principalmente pra ver como eu estou longe do que quero para o personagem.

E vamos que vamos!!!
quinta-feira, maio 11, 2006

Experimentando - Dia 15, por Bruno

Depuramos os a estrutura de acontecimentos da peça, até o momento, da seguinte forma:

1. Turnês – Auge

- dia 1 – apresentação pelo empresário;
- cenas com os fiscais;
- cena dos visitantes noturnos, munidos de archotes;
- momento do homem generoso/ira do jejuador/fotos;
- dia 40 – momento de término do jejum. Cenas com o (i) médico, (ii) senhoritas assistentes e o (iii) empresário. Cena da ingestão de alimentos; e
- momento de despedida das turnês e do rompimento com o empresário.

2. Circo – Início do declínio

- dia 1 – início no circo – cena do manco afixando os cartazes;
- momento dos personagens maravilhados e curiosos;
- momento dos personagens céticos, desinteressados, dentre os quais: (i) mulher com nojo, (ii) playboy com goma de mascar, (iii) crianças correndo;
- momento do especialista e da mulher por ele convencida;
- momento do ex-jejuador (2 atos);
- momento do visitante que vem especialmente para ver o jejuador
- cena do delírio com os três jejuadores filosofando;
- momentos do inspetor manco (mais 3 atos);
- cena de reaparecimento do empresário (que pode ser o pai com os filhos); e
- cena da pantera e das crianças maravilhadas.

Como o Haruki mencionou, após o relaxamento, selecionamos duas figuras para composição visual dos personagens ainda não estudados. Eu escolhi:

- a imagem de retrato do pintor Felix Jasinski sentado; que utilizei para compor algumas características de um dos médicos, incumbidos de verificar a saúde do jejuador; e
- uma caricatura de um policial gordo de Valloton; que utilize para compor um dos fiscais responsáveis por inspecionar o jejum durante as turnês.

Após os estudos individualizados, remontamos as cenas já conhecidas no intuído de inserir esses novos personagens; ou outros, ainda não inseridos na trama.
Apresentei um médico consideravelmente novo e tranqüilo, que senta-se em frente ao jejuador e busca conversa, antes de realizar os exames. Não tanto caricato, o médico arrisca uma piada, que não combinou muito com a situação; mas que talvez seja eficiente em alguma cena no início do jejum, quando o jejuador encontra-se bem disposto. Já o médico apresentado pelo Haruki, como um senhor mais velho, ironicamente pai do médico que eu compus, agradou tremendamente. Pelo menos, agradou a mim, que interpretava o jejuador na ocasião em que o Haruki o apresentou. Um senhor frágil e paciente, mas consciente de seu profissionalismo. Ele tinha um senso de humor jovem e elegante.

Eu estava procurando as características perfeitas para o médico desde os primeiros ensaios, e ainda não as encontrei. O médico do Haruki agrada em demasia, ganhando minha apreciação.

O fiscal gordo e bruto funcionou. Ficou caricato demais, mas pode ser lapidado. Ele só que saber de comer e dormir, mas para tanto, precisa realizar esse serviço. A comida que o jejuador oferece é de primeira qualidade. Ótima essa situação antagônica.

Aproveitei que já havia praticado com os novos personagens estudados através das imagens e resolvi explorar os personagens identificados no texto mas que, ou não tinha aparecido nas improvisações, ou tinham aparecido pouco.

Introduzi o visitante que veio especialmente pra ver o jejuador, logo na cena proposta pelo Haruki no começo do ensaio, onde o ex-jejuador conversava com o jejuador sobre a ausência de público. Ficou gloriosa a cena. O personagem também é bom. É um homem simples, de vida simples, com sonho simples. Queria apenas conhecer um homem como o jejuador, que demonstrava uma força descomunal ao fazer extremamente nada: ou seja, não comer. Ele vem de longe pra vê-lo, e só pode ficar pouco tempo pois o caminho de volta é tão demorado quanto a vinda. Ele se curva ao brilhantismo do jejuador. Pensa em alcançar glórias como as dele; ser alguém determinado e forte. Embora ele já demonstre algumas dessas características, ao viajar tamanha distância apenas para ver um homem por menos de 5 minutos.

Apresentei um novo homem generoso, que implica com o jejuador sobre sua condição de tristeza. Tentei um personagem todo deformado, física e psicologicamente. Estilo Forrest Gump com retrações musculares. Acho que o personagem tirou um pouco a seriedade da discussão em torno da falta de alimentação; que é um tema interessante e necessário. Mas pode até funcionar.

Gostei de introduzir o chefe do circo, vindo até o jejuador para obter a assinatura do contrato. A Luiza lembrou bem que o jejuador nem tem coragem de ler o contrato, e a cena ficou ótima. É o início da nova fase no circo e, embora triste pela opção, talvez lhe brilhe os olhos o sentimento de esperança.

Arte e Apreciação - Teorias, por Bruno

O primeiro módulo se encerrou em um questionamento complexo cuja resposta, no meu ponto de vista, será eternamente imprecisa; mas, que nem por isso, inexistente. Entretanto, considero importante discutirmos algumas teorias e ponderarmos sobre as definições decorrentes do significado da arte como um todo. Ou ao menos da arte com um excludente do todo.

Sem adiantarmos demais, inicio com a pergunta: o que é arte, afinal?

Uma coisa eu assumo como premissa verdadeira: a arte tem que ter um conceito, mesmo que falho, caso contrário seria impossível aplicá-lo sob qualquer pretexto ou em qualquer situação.

“A arte não revela, mas esconde o verdadeiro, porquanto não constitui uma forma de conhecimento nem melhora o homem, mas o corrompe, porque é mentirosa; ela não educa o homem, mas o deseduca, porque se volta para as faculdades irracionais da alma, que constituem as partes inferiores de nós mesmos”. Para Platão, a arte sempre foi um mímesis, uma imitação de realidades sensíveis; das idéias paradigmáticas, se afastando do verdadeiro. Esse entendimento foi recorrente em seus discursos por muito tempo, embora tivesse algumas posições mas favoráveis em relação à música.

Observamos em Aristóteles, já, uma visão mais realista e preocupada ante a apreciação e, subseqüentemente, definição do conceito da arte.

Em tempos modernos, vários filósofos discutiram a busca desse julgamento:

Os causídicos da teoria essencialista defendiam a existência de propriedades essenciais inerentes às obras de cunho artístico. Acreditavam que, se certos objetos pudessem ser definidos como obras de arte, era porque eles possuíam alguma propriedade em comum; propriedade essa essencial às manifestações artísticas. Porém, para tanto, seria necessário que conhecêssemos essas propriedades essenciais, o que foi condenado pela grande maioria dos filósofos modernos. A definição não poderia decorrer do pré-conhecimento de suas características essenciais. Na distinção entre forma e substância e a relação entre elas; a substância jamais se sobrepõe à forma.

Posteriormente, difundiu-se a teoria de compreensão artística com base nas experiências causadas quando da apreciação de uma obra de arte – o que se denominou de teoria estético-psicológica. A definição de arte seria baseada na característica específica dessas experiências. Decorrem dessa posição várias reflexões contrárias, das quais destaco: a impossibilidade do reconhecimento de um sentimento único envolvente sobre todos os apreciadores de uma referida obra de arte; descompasso cultural entre os apreciadores; falha filosófica de definição de ‘apreciadores de arte’ quando ainda não se sabe a definição da arte em sim, etc.

Morris Weitz se destacou com o mais proeminente porta-voz da teoria da indefinibilidade da arte, em uma tentativa de trilhar um caminho diferente de discussão filosófica adotado pelas correntes anteriores. Defendia que a arte não podia ser definida, por uma impossibilidade lógica referente às regras de aplicabilidade do termo ‘obra de arte’. Acreditava que as obras de arte eram definidas de acordo com características semelhantes, mas não pré-estabelecidas. Dessa forma, a definição de arte pode se adaptar. Defende que as teorias anteriores erraram ao tentarem definir o conceito de arte em termos de condições necessárias e suficientes, tratando-a como um conceito fechado. A importância está na forma que conceituamos as obras de arte, e não na arte em si.

A teoria institucional, de George Dickie, manteve o foco nas obras artísticas, definindo-as como artefatos repletos de certos aspectos que as elegeriam como candidatas à apreciação por uma, ou várias pessoas. Dessa forma, qualquer pessoa poderia eleger um artefato ao estatuto de obra de arte. Dessa corrente surge a premissa de que a obra de arte será sempre apreciável, mas não apreciada; daí questiona-se: e o que não é apreciado?

Paralelamente, Goodman vai mais longe no distanciamento das teorias anteriores quanto à definição do conceito de arte em si e explora o conceito relativo ao momento em que a arte existe. Quando há arte? É a teoria simbólica, contraponto as teorias formalistas ou puristas que defendem a importância das propriedades de uma obra artística em contraposição à existência de símbolos. Para Goodman, qualquer objeto pode funcionar como arte, bastando para isso que seja interpretado como símbolo estético, exibindo um ou mais dos seus sintomas. De sua teoria decorrem inúmeras discussões sobre a definição de estética, outro grande conceito atrelado ao estudo filosófico da arte.

As teorias modernas juntam, na sua maioria, entendimentos das teorias institucionalistas e simbólicas, pendendo para a compreensão da arte como a união de objetos criados e que representam, dentro de uma cultura, símbolos de apreciação.

Nossas discussões durante os ensaios levantaram as seguintes questões: existe arte sem público? E o contrário: existiria público sem arte?

A maioria das teorias modernas tem como preceito, como podemos visualizar, a necessidade de apreciação das obras de arte, por membros da sociedade que, com base em preceitos artísticos de cunho moral (já que são mutáveis e informais), alocam um espaço dentro de sua cultura para tal definição; sem entrarmos nos conceitos das teorias do belo e do gosto.

Uma obra, então, jamais exposta à observação dos demais, perde sua característica artística? Acredito que a resposta a essa pergunta depende da definição da estrutura social, como ordenamento cultural. Uma única pessoa pode definir cultura? Mesmo que pessoal? Acredito que sim. Se a definição de obra de arte e, conseqüentemente, da arte em si, é mutável, intrinsecamente atrelada à percepção de certa cultura, em espaço e tempo definidos; uma única pessoa pode criar arte para sua própria e exclusiva satisfação, dentro do seu conceito sócio-cultural; mesmo que isolado. Pode ser arte pra um, mas não arte para o todo.

Arte versus apreciação. Apreciação como espasmo cultural. Cultura sob constante mutação.

Bibliografia na Internet:

- O Belo e a Arte Segundo Platão;
- Disputas Acerca da Arte (Célia Teixeira);
- O que é Arte?(Aires Almeida)



terça-feira, maio 09, 2006

Blocando - Dia 15, por Haruki

O ensaio foi bastante produtivo, apesar de todos estarem visivelmente cansados. Afinal, não é qualquer um que tem pique para ensaiar das 18:30 às 22:00 de um sábado...

Começamos aquecendo com exercícios de respiração, seguido de exercícios que combinavam respiração com massagem e sensibilização do corpo. Bom, muito bom, difícil foi levantar do chão depois de estar relaxado...

Após o aquecimento, começamos a trabalhar com o texto. Cada um fez uma lista de personagens que interpretou desde o começo dos ensaios, ressaltando se havia feito o personagem baseado em uma imagem ou não.

Isto feito, o Pedro pediu para que escolhêssemos imagens para os personagens que não eram baseados em imagens. E segue uma novidade nos nossos posts: FIGURAS!!
Eu escolhi 3 imagens:
- um velhinho com chapéu, que associei com o médico que examina o jejuador.



- um senhor preocupado, tenso, com um jornal nas mãos, que eu associei com o empresário no momento em que ele percebe que acabou, que não há mais espaço para jejuadores.



- um rapaz com as mãos no bolso, e com um rosto entre curioso e preocupado, que associei ao inspetor no momento em que percebe a jaula vazia, e se lembra de que havia alguém lá, tentando sair um pouco da imagem que o Bro havia criado baseado no Pedroca.



Começamos então a reproduzir as imagens. O velhinho rapidamente me pareceu simpático e amável, e encaixou-se bem no médico que examina o jejuador. Gostei. O rapaz com as mãos no bolso não se encaixou muito bem no perfil do inspetor, talvez por já haver uma imagem muito forte do Bro plantada na cabeça. Mas valeu pela cara de preocupado, aquela sensação de "nossa, acho que a gente fez uma cagada bem grande... deixamos um cara morrer ali...". Agora, para mim, a melhor imagem, a que mais trouxe algo, foi a do senhor preocupado. No momento em que coloquei a mão direita para trás e a mão esquerda na boca, simplesmente eu entendi o dilema do empresário, ou pelo menos criei um dilema interessante. Ele gosta do jejuador, sabe que este está velho e que não conseguirá outro emprego, mas não pode continuar com o show, não há como, ou nenhum dos dois irá sobreviver... e ele fica lá, horas e horas pensando no que pode fazer para ajudar o pobre coitado que não sabe fazer outra coisa... no final ele não encontra uma resposta, e acaba partindo para outra empreitada. E é engraçado que eu estava com tanto peso na consciência quando fiz a cena, que meio que instintivamente, para tentar me redimir, tirei o número do dono do circo do bolso na hora em que estava improvisando a cena... mas não vamos nos adiantar...

Após os exercícios com as imagens, blocamos as cenas que já montamos pelo menos uma vez ou que ainda não fizemos nada, mas já havíamos comentado. Dessa blocagem saiu o que acredito ser a espinha dorsal da peça: uma introdução no circo de horrores, o primeiro ato com o auge do jejuador, o segundo ato com o declínio dele no circo, e um grand finale festivo de volta no circo de horrores. Vou deixar para outra pessoa colocar as subdivisões de cada ato, já escrevi demais.

Após a blocagem, fizemos um improviso, com a condição de usarmos os personagens que trabalhamos pouco antes. É realmente diferente fazermos um personagem após usar as imagens... os mesmos personagens que eu havia feito antes ganharam rosto, expressões, postura, gestos, tudo bem definido na minha cabeça. Foram com certeza o melhor médico, o melhor empresário e o melhor inspetor que eu fiz (mesmo estando meio desconfortável no inspetor). E acho que o fato de termos a parte física bem definida ajuda a parte das idéias a fluir melhor. Volto no exemplo do empresário dando o telefone ao jejuador. Naquele momento eu não podia simplesmente ir embora e deixá-lo ali... eu precisava, queria fazer algo por ele... e por isso dei o cartão, como uma forma de aliviar a minha consciência, mesmo sabendo que era algo sem futuro para ele. E o fato dele ter indicado o circo me levou a pensar: como ele se sentiria ao ver o jejuador, companheiro de tantos anos, esquecido em um canto no circo, quase morrendo... se sentiria culpado? Afinal, ele está lá por causa dele, não? E seria pior ainda para o empresário se mesmo assim o jejuador estivesse agradecido, não? Várias possibilidades... cada ensaio mais interessante...
terça-feira, maio 02, 2006

Atrasando - Dia 14, por Bruno

Assistimos às filmagens do último ensaio. Ficaram ótimas e interessantes. Aproveitamos pra capturar mais imagens nesse ensaio. Passei todas pro computador e compus um cd com essa 1 hora de gravação.

Durante a discussão, o Haruki propôs a idéia do empresário aparecer no final da cena do circo. Ótima idéia. Discutimos também a proposta da criação do irmão do jejuador, que estaria contando toda sua história em flashbacks. Ele seria sua contraposição – o Homem Avestruz.

Estudamos mais 2 imagens e incorporamos aos personagens. As minhas foram:

- uma imagem de uma escultura do pugilista Mike Tyson; que utilizei para compor algumas características do visitante do circo playboy; e
- imagem de um mendigo; que utilizei pra representar algumas características do jejuador debilitado.

Utilizamos esses personagens em exercícios de interação isolados, e depois arriscamos as cenas de praxe.

O playboy veio fácil. É uma imagem simples e notória no cotidiano. Funcionou bem e interagiu com facilidade com os demais personagens. A Luiza, pra variar, isolada em seu casulo depressivo.

O mendigo interagiu com o personagem do Haruki. Uma discussão cíclica sobre dinheiro e comida. Tentava trazer o jejuador da Luiza pra conversa; em vão.

Nas cenas conhecidas, eu e o Haruki montamos dois professores discutindo o futuro do jejuador. Ficou ótima. De características bem semelhantes, já é um personagem forte nas improvisações.