quinta-feira, maio 11, 2006

Experimentando - Dia 15, por Bruno

Depuramos os a estrutura de acontecimentos da peça, até o momento, da seguinte forma:

1. Turnês – Auge

- dia 1 – apresentação pelo empresário;
- cenas com os fiscais;
- cena dos visitantes noturnos, munidos de archotes;
- momento do homem generoso/ira do jejuador/fotos;
- dia 40 – momento de término do jejum. Cenas com o (i) médico, (ii) senhoritas assistentes e o (iii) empresário. Cena da ingestão de alimentos; e
- momento de despedida das turnês e do rompimento com o empresário.

2. Circo – Início do declínio

- dia 1 – início no circo – cena do manco afixando os cartazes;
- momento dos personagens maravilhados e curiosos;
- momento dos personagens céticos, desinteressados, dentre os quais: (i) mulher com nojo, (ii) playboy com goma de mascar, (iii) crianças correndo;
- momento do especialista e da mulher por ele convencida;
- momento do ex-jejuador (2 atos);
- momento do visitante que vem especialmente para ver o jejuador
- cena do delírio com os três jejuadores filosofando;
- momentos do inspetor manco (mais 3 atos);
- cena de reaparecimento do empresário (que pode ser o pai com os filhos); e
- cena da pantera e das crianças maravilhadas.

Como o Haruki mencionou, após o relaxamento, selecionamos duas figuras para composição visual dos personagens ainda não estudados. Eu escolhi:

- a imagem de retrato do pintor Felix Jasinski sentado; que utilizei para compor algumas características de um dos médicos, incumbidos de verificar a saúde do jejuador; e
- uma caricatura de um policial gordo de Valloton; que utilize para compor um dos fiscais responsáveis por inspecionar o jejum durante as turnês.

Após os estudos individualizados, remontamos as cenas já conhecidas no intuído de inserir esses novos personagens; ou outros, ainda não inseridos na trama.
Apresentei um médico consideravelmente novo e tranqüilo, que senta-se em frente ao jejuador e busca conversa, antes de realizar os exames. Não tanto caricato, o médico arrisca uma piada, que não combinou muito com a situação; mas que talvez seja eficiente em alguma cena no início do jejum, quando o jejuador encontra-se bem disposto. Já o médico apresentado pelo Haruki, como um senhor mais velho, ironicamente pai do médico que eu compus, agradou tremendamente. Pelo menos, agradou a mim, que interpretava o jejuador na ocasião em que o Haruki o apresentou. Um senhor frágil e paciente, mas consciente de seu profissionalismo. Ele tinha um senso de humor jovem e elegante.

Eu estava procurando as características perfeitas para o médico desde os primeiros ensaios, e ainda não as encontrei. O médico do Haruki agrada em demasia, ganhando minha apreciação.

O fiscal gordo e bruto funcionou. Ficou caricato demais, mas pode ser lapidado. Ele só que saber de comer e dormir, mas para tanto, precisa realizar esse serviço. A comida que o jejuador oferece é de primeira qualidade. Ótima essa situação antagônica.

Aproveitei que já havia praticado com os novos personagens estudados através das imagens e resolvi explorar os personagens identificados no texto mas que, ou não tinha aparecido nas improvisações, ou tinham aparecido pouco.

Introduzi o visitante que veio especialmente pra ver o jejuador, logo na cena proposta pelo Haruki no começo do ensaio, onde o ex-jejuador conversava com o jejuador sobre a ausência de público. Ficou gloriosa a cena. O personagem também é bom. É um homem simples, de vida simples, com sonho simples. Queria apenas conhecer um homem como o jejuador, que demonstrava uma força descomunal ao fazer extremamente nada: ou seja, não comer. Ele vem de longe pra vê-lo, e só pode ficar pouco tempo pois o caminho de volta é tão demorado quanto a vinda. Ele se curva ao brilhantismo do jejuador. Pensa em alcançar glórias como as dele; ser alguém determinado e forte. Embora ele já demonstre algumas dessas características, ao viajar tamanha distância apenas para ver um homem por menos de 5 minutos.

Apresentei um novo homem generoso, que implica com o jejuador sobre sua condição de tristeza. Tentei um personagem todo deformado, física e psicologicamente. Estilo Forrest Gump com retrações musculares. Acho que o personagem tirou um pouco a seriedade da discussão em torno da falta de alimentação; que é um tema interessante e necessário. Mas pode até funcionar.

Gostei de introduzir o chefe do circo, vindo até o jejuador para obter a assinatura do contrato. A Luiza lembrou bem que o jejuador nem tem coragem de ler o contrato, e a cena ficou ótima. É o início da nova fase no circo e, embora triste pela opção, talvez lhe brilhe os olhos o sentimento de esperança.