quinta-feira, abril 06, 2006

Dia 10 – 25.03.06 por Bruno

Começamos o ensaio com exercícios de alongamento, utilizando os bastões como ferramentas auxiliadoras. Além de experimentar, pude visualizar pelo trabalho dos outros algumas utilidades dos bastões para esse fim, embora tenha chegado a conclusão de que não seja esse o melhor instrumento para tal. Acredito que boas ferramentas para alongamento devam estar fixas em algum ponto, que servirá de base para aproximação ou afastamento do corpo durante os exercícios, forçando e relaxando os músculos a serem trabalhados. O bastão acompanha o corpo e o movimento, não criando (ou às vezes até criando, mas com pouca eficiência) essa relação entre o corpo móvel e um ponto fixo. Se o bastão estivesse preso a uma parede por exemplo, independentemente de sua posição, traria uma firmeza necessária nos trabalhos de alongamento. Uma sobrecarga ativa sobre os movimentos e, em conseqüência, sobre os músculos trabalhados. Ferramentas como barras, cordas etc.

Pude sentir bem essa funcionalidade do ponto fixo em contraposição aos movimentos corporais quando realizamos o exercício de ‘cabo de guerra’ com os bastões. Não era bem um ‘cabo de guerra’ pois a intenção não era vencer um oponente mediante a posse total do bastão através de medição de força. Era um exercício de experimentação livre que tinha como única premissa a permanência constante das mãos (de todos os participantes) no corpo do bastão. Dentre as várias posições e alocações dos corpos, algumas delas simulavam os movimentos dos ‘cabos de guerra’ convencionais; movimentos esse que exerciam uma enorme tensão, alongando os músculos superiores das costas, do ombro e dos antebraços. É pra esse momento expecífico que direciono toda a teoria do parágrafo anterior sobre o ponto fixo e a contraposição dos movimentos.

Continuando com o exercício em conjunto sobre o bastão caímos na discussão sobre a fluidez dos movimentos em contrapartida com velocidade e força. A Luiza defendia que os movimentos, para serem fluidos, deveriam ser mais lentos e suaves. Eu e o Haruki, ao contrário, experimentamos diversas relações com velocidades e forças bem variadas, concluindo que a fluidez podria, sem problema algum, ser mantida independentemente desses fatores.

Ampliamos o exercício para três participantes, e ficamos surpresos com a facilidade que tínhamos de interagir em harmonia, e fluidez, em um espaço físico tão delimitado e em condições adversas à qualquer movimentação; uma vez que, mantendo a premissa de todas as mãos no bastão, o universo fora reduzido. Mesmo assim, experimentamos combinações de movimentos lentos e suaves da Luiza com agressividade e energia – mas sem perder a precisão – dos movimentos meus e do Haruki. O resultado foi interessante, embora cansativo.

Descansamos o corpo e trabalhamos a mente com as discussões em cima das figuras do livro ‘O Corpo Fala’ sobre certas emoções e seus simbolismos mais reconhecíveis. Uma das maiores discussões girou em torno da questão do ‘consciente’ vs. ‘inconsciente’. Os símbolos existem desde sempre e, realmente, transmitem impressões ao observador atento (que não significa exclusivamente o conhecedor das técnicas aqui estudadas). Entretanto, alguns símbolos, quando reconhecidos pelo transmissor e, assim, provenientes do seu consciente, não transmitem necessariamente as suas intenções/sentimentos verdadeiros. Por exemplo: uma pessoa consciente de sua personalidade tímida pode, racionalmente, tomar atitudes que levem um observador casual a considerá-la extrovertida; erroneamente. A boa técnica reflete a capacidade de perceber os símbolos irracionais dos racionais, que são os que merecem, verdadeiramente, uma interpretação.