terça-feira, março 21, 2006

Dia 9 – 12.03.06 por Bruno

Começamos com os jogos de bastão em roda. Trabalhamos uma variação de ‘kempô’ em duplas e finalizamos com a ‘dança dos ventos’ com batidas sincronizadas. O exercício em roda está muito bom. Embora o tenhamos feito poucas vezes, acredito que o grupo já assimilou toda a técnica necessária e a confiança no arremesso e recebimento dos bastões. O ‘kempô’ trouxe movimentos novos e muito contato entre os bastões. Foi uma proposta diferente, já que não existem lançamentos ou recebimentos; mesmo assim, de bastante complexidade e, em decorrência do perigo de se machucar, requer mais atenção. Alternamos as duplas. Gostei de quando fiz com o Haruki, porque começamos a nos empolgar e o clima começou a pegar fogo. Os movimentos ficaram rápidos, fortes e precisos. Acredito que conseguiríamos ampliar isso pra coreografias complexas que simulassem duelos.

Finda as acrobacias e artes-marciais começamos a trabalhar com a transposição física de fotos e figuras. Andamos pelo espaço e recriávamos, individualmente, os detalhes corporais de cada uma das 4 figuras escolhidas. As minhas foram:

- Um velho sentado sozinho sobre uma cama em um quarto, que mais lembrava uma prisão;
- Um faquir, sem camisa, de barba longa, de pernas cruzadas, sentado sobre pregos;
- Uma criança pequena, triste, acompanhada dois pais na pintura ‘Os Retirantes’ do Portinari;
- Um professor algo, magro e sério, de óculos, próximo a um quadro negro, com um olhar de desaprovação ante os (prováveis) alunos.

Em continuação, deitamos de olhos fechados ao som de músicas variadas, e fantasiamos a integração desses personagens no texto do Kafka. Podíamos nos movimentar enquanto deitados. Meus movimentos, percebi, acompanhavam o ritmo das músicas. Das 4 músicas tocadas, uma me incomodou, embora eu não conseguisse explicar porque. Mas ela destoava das demais e, talvez, também, do contexto do exercício. Fantasiei com o circo e passeios entre criaturas e pessoas bizarras. Rostos com diversas feições apareciam e desapareciam. Minhas quatro figuras compuseram personagens diversos, os quais já havíamos previamente criados para o exercício de montagem de cena no ensaio em que o Pedro estava ausente.
As imagens do velho e do faquir encaixaram-se com facilidade em uma montagem que fiz do próprio artista da fome, em fases diversas. Uma, em que ele estava no auge, repleto de confiança e energia. Outra, em que, a idéia de ser esquecido pelo público, lhe traria sentimentos de solidão e um estado de melancolia. A imagem da criança colaborou, também, pra esse estado melancólico. Utilizei a figura do professor para compor um visitante do circo, esnobe e desacreditado quanto a arte do jejum.

Sentamos pra discutir as idéias. O Haruki trouxe como proposta a criação de um personagem ex-jejuador, que discutiria a filosofia da arte da fome com o personagem principal do texto. Talvez sua desistência tenha resultado de uma falsa interpretação da arte-em-si. Aí, seria uma oportunidade interessante para discutir, além da arte de jejuar, a arte em geral.

Após essa composição solitária, começamos a montar as fotos novamente, já baseadas nas imagens do texto. Acrescentamos movimentos ás fotos e, em seguida, começamos a interagir os personagens em um exercício de improvisação. Cada um variava suas figuras e tentava criar um contexto em que elas pudessem coexistir. Eu e o Haruki, devido as nossas construções, tivemos maiores oportunidades de interação, uma vez que os personagens da Luiza eram, em sua maioria, bastante resguardados.