terça-feira, maio 09, 2006

Blocando - Dia 15, por Haruki

O ensaio foi bastante produtivo, apesar de todos estarem visivelmente cansados. Afinal, não é qualquer um que tem pique para ensaiar das 18:30 às 22:00 de um sábado...

Começamos aquecendo com exercícios de respiração, seguido de exercícios que combinavam respiração com massagem e sensibilização do corpo. Bom, muito bom, difícil foi levantar do chão depois de estar relaxado...

Após o aquecimento, começamos a trabalhar com o texto. Cada um fez uma lista de personagens que interpretou desde o começo dos ensaios, ressaltando se havia feito o personagem baseado em uma imagem ou não.

Isto feito, o Pedro pediu para que escolhêssemos imagens para os personagens que não eram baseados em imagens. E segue uma novidade nos nossos posts: FIGURAS!!
Eu escolhi 3 imagens:
- um velhinho com chapéu, que associei com o médico que examina o jejuador.



- um senhor preocupado, tenso, com um jornal nas mãos, que eu associei com o empresário no momento em que ele percebe que acabou, que não há mais espaço para jejuadores.



- um rapaz com as mãos no bolso, e com um rosto entre curioso e preocupado, que associei ao inspetor no momento em que percebe a jaula vazia, e se lembra de que havia alguém lá, tentando sair um pouco da imagem que o Bro havia criado baseado no Pedroca.



Começamos então a reproduzir as imagens. O velhinho rapidamente me pareceu simpático e amável, e encaixou-se bem no médico que examina o jejuador. Gostei. O rapaz com as mãos no bolso não se encaixou muito bem no perfil do inspetor, talvez por já haver uma imagem muito forte do Bro plantada na cabeça. Mas valeu pela cara de preocupado, aquela sensação de "nossa, acho que a gente fez uma cagada bem grande... deixamos um cara morrer ali...". Agora, para mim, a melhor imagem, a que mais trouxe algo, foi a do senhor preocupado. No momento em que coloquei a mão direita para trás e a mão esquerda na boca, simplesmente eu entendi o dilema do empresário, ou pelo menos criei um dilema interessante. Ele gosta do jejuador, sabe que este está velho e que não conseguirá outro emprego, mas não pode continuar com o show, não há como, ou nenhum dos dois irá sobreviver... e ele fica lá, horas e horas pensando no que pode fazer para ajudar o pobre coitado que não sabe fazer outra coisa... no final ele não encontra uma resposta, e acaba partindo para outra empreitada. E é engraçado que eu estava com tanto peso na consciência quando fiz a cena, que meio que instintivamente, para tentar me redimir, tirei o número do dono do circo do bolso na hora em que estava improvisando a cena... mas não vamos nos adiantar...

Após os exercícios com as imagens, blocamos as cenas que já montamos pelo menos uma vez ou que ainda não fizemos nada, mas já havíamos comentado. Dessa blocagem saiu o que acredito ser a espinha dorsal da peça: uma introdução no circo de horrores, o primeiro ato com o auge do jejuador, o segundo ato com o declínio dele no circo, e um grand finale festivo de volta no circo de horrores. Vou deixar para outra pessoa colocar as subdivisões de cada ato, já escrevi demais.

Após a blocagem, fizemos um improviso, com a condição de usarmos os personagens que trabalhamos pouco antes. É realmente diferente fazermos um personagem após usar as imagens... os mesmos personagens que eu havia feito antes ganharam rosto, expressões, postura, gestos, tudo bem definido na minha cabeça. Foram com certeza o melhor médico, o melhor empresário e o melhor inspetor que eu fiz (mesmo estando meio desconfortável no inspetor). E acho que o fato de termos a parte física bem definida ajuda a parte das idéias a fluir melhor. Volto no exemplo do empresário dando o telefone ao jejuador. Naquele momento eu não podia simplesmente ir embora e deixá-lo ali... eu precisava, queria fazer algo por ele... e por isso dei o cartão, como uma forma de aliviar a minha consciência, mesmo sabendo que era algo sem futuro para ele. E o fato dele ter indicado o circo me levou a pensar: como ele se sentiria ao ver o jejuador, companheiro de tantos anos, esquecido em um canto no circo, quase morrendo... se sentiria culpado? Afinal, ele está lá por causa dele, não? E seria pior ainda para o empresário se mesmo assim o jejuador estivesse agradecido, não? Várias possibilidades... cada ensaio mais interessante...

1 Comments:

Blogger Gabriel Aleixo said...

Olha o que eu achei, que legal!!
Gostei muito dessa visão do processo de ensaio, muito legal.
Bons ensaios procêis e muita merda!
Gabriel

quinta-feira, maio 11, 2006 9:03:00 AM  

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